Natureza canina, natureza divina

Hassin Ghannam

Quem sou eu para falar de um mero cão?

Terei a metade de sua fidelidade?
Terei um terço do seu amor por quem amo?
Terei tão somente um quinto de sua resignação frente a tudo que não tolero?
Terei talvez um décimo de sua alma brincalhona
para encarar a vida
com uma férrea alegria
no meio das adversidades?

Quem sou eu para falar de um cão?

Sou muito menos que um deles,
e quisera possuir suas virtudes
sem deter-me apenas
numa estúpida e crítica consideração
que eles muitas vezes estão sujos
ou mesmo um tanto fedidos
depois de uma chuva de verão.

É melhor estar sujo até o pescoço,
mas ser fiel sob qualquer pressão.
É melhor estar fedido, mas amar incondicionalmente,
Sem importar-se com a cor da suas peles,
Sem discriminar os seus corpos estropiados,
Sem importar-se que outros deixarão de serem meus amigos
por estarem limpos, belos e perfumados.

É melhor dormir ao relento,
que dormir em uma cama macia
sob um teto quente e acolhedor.
Pois quem assim procede,
Ao despertar de um novo dia,
Vai à luta conquistar o seu mundo,
Destruindo impensadamente,
Passados de uma bela história,
Sonhando augúrios de um presente,
Assentados em um futuro sem glórias!

E assim vai a humanidade carente,
Conquistando “bens” na sua marcha,
São castelos vazios e sem esperanças,
Sementes de esforços jogados ao nada..

Ser cão, não é para qualquer um, e comparando, não há nada igual,
Ser cão é possuir uma alma divina, num corpo limitado de um animal