Soneto do Amor

Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e
do que tudo
Este amor que é real e que contudo
Eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.
Este amor meu é como um rio;
um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um
mar sem termo.



Vinícius de Moraes